Recuar no tempo e viver as tradições gastronómicas da gente da terra. Esse é o desafio do Festival Gastronomia de Bordo, que vai na segunda edição. Um festival diferente pela abordagem e pelo facto de decorrer em três regiões distintas: Peniche, Ílhavo e Murtosa.
E é sobre Murtosa que quero falar. Até Domingo é possível experimentar, nos dez restaurantes aderentes, as receitas que eram confeccionadas, e consumidas, pelos pescadores. A ria de Aveiro sempre foi parte integrante das pessoas que vivem na região. Os moliceiros, a pesca das enguias e a recolha do moliço.
Ir ao Festival da Gastronomia a Bordo é como que recuar no tempo e perceber o impacto que a ria de Aveiro, o moliço e as enguias teve na sociedade local. Na vida das pessoas, na forma como viviam, se apaixonavam, trabalhavam… mas também nas escolhas gastronómicas. Escolhas como quem diz, que as pessoas, nomeadamente os pescadores, cozinham os ingredientes que tinham à mão. Ou seja, o pescado de menor valor que apanhavam.
É por isso que, tradicionalmente, a comida de Murtosa é algo pobre. Mas pobre no sentido de não usar muitos ingredientes. Não pobre de sabor. Porque a pobreza da vida incentivou a criatividade. Surge assim a caldeirada de enguias que é confeccionada de forma completamente diferente da algarvia, por exemplo. Eu, pessoalmente, prefiro a versão de Murtosa porque considero o pimento (usado na receita algarvia) algo indigesto.
A iniciativa, que termina no Domingo – para o ano há mais – está presente em 10 restaurantes: A Varina, Avenida-Praia, Bastos, Braseiro do Mar, Búzios-Pousada da Ria, Casa Silva, Feira dos Cinco, O Bico, O Veleiro e Xávega-mar. No programa há também todo um conjunto de actividades que procuram divulgar a região.
No sábado, dia 30 de Novembro, pelas 10 horas, decorre a visita guiada “Rota do Mar & Ria”, que se iniciará na Praça Jaime Afreixo em Pardelhas e passará pelo Cais do Bico e pela COMUR-Museu Municipal. E este é claramente um museu que vale a pena visitar. Seja pelo facto de ficar nas antigas instalações da única fábrica na península ibérica de conservas de enguia, seja pela própria história da empresa de conservas. Só para dar um “cheirinho” – sim, que o museu vai ter direito a um texto autónomo – sabiam que em 1942, data em que foi feita a escritura pública, as fritadeiras da Murtosa (mulheres que percorriam as feiras a vender enguias fritas) foram constituídas sócias da empresa? Numa altura em que a mulher praticamente não tinha um papel activo na sociedade portuguesa essas mulheres, algumas das quais não sabiam ler ou escrever, viraram empresárias. Vale a pena visitar o museu nem que seja para ficar a par de toda esta história.
No Domingo, às 15 horas, a tarde começa com a “Rota da Enguia”, o ponto de encontro é no Cais do Bico e percorrerá a beira-ria, terminando na “Ti Alcina”, na Béstida, com um workshop de confecção de caldeirada de enguias. Seguida de uma degustação, claro.
Se ainda não tem planos para este fim-de-semana pegue no carro e vá até à Murtosa. Faça um passeio em família, aproveite para conhecer a região e degustar as maravilhas gastronómicas desta freguesia. Uma dica. Faça uma paragem no Monte, mais precisamente na pastelaria Âncora – mais conhecida pelo O Guedes – e experimente os pasteis de nata. São conhecidos na região como sendo os melhores pasteis de nata de Portugal. Eu provei e gostei – não sei se são os melhores de Portugal porque não provei os de todas as pastelarias existentes, mas que são bons… são.
Ah. Convém mencionar que a participação nestas visitas é gratuita mas carece de inscrição prévia através do e-mail gap@cm-murtosa.pt.
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Estou programando visitar Murtosa para sentir a delícia das enguias fritas.
Olá. Vale mesmo a pena visitar a região. Se precisar de dicas posso ajudar. Obrigada e bom feriado. 🙂